“...para que ninguém se glorie” Ef.2.9
A tarefa de meditar em Efésios 2.1-10 pode ser uma das mais difíceis para o cristão contemporâneo. Não digo isto pelas dificuldades exegéticas ou quaisquer outros problemas para a interpretação do texto. Pelo contrário, é a clareza da mensagem de Paulo que torna a tarefa tão difícil. Não há ambiguidades nem enrolações, apenas a apresentação direta de verdades que incomodam em grande medida não somente os que vivem sem Cristo, mas muitos cristãos dos dias atuais, por mais incoerente que isto pareça.
Pressuposições erradas estão em alta no conceito teológico de muitos crentes sinceros. Estes ficariam profundamente escandalizados ao considerarem seriamente os ensinamentos do apóstolo Paulo no texto em questão.
Um pressuposto comum é que o homem, embora afetado pelo pecado, ainda possui a capacidade de escolher livremente a Deus. A partir deste ponto, um edifício teológico é construído, com visão peculiar sobre a igreja, a pregação, o evangelismo, a adoração, a oração, as boas obras, e os demais itens do repertório eclesiástico. O problema é que nunca foi demonstrado em primeiro lugar que este pressuposto está correto. Contra isto, uma das primeiras coisas que Paulo faz em efésios 2 é derrubar esta noção. “O homem sem Cristo está morto em suas ofensas e pecados”, diz Paulo (v.1). Se há nele alguma escolha, esta é direcionada para a desobediência a Deus (v.2). Aqueles que não nasceram de novo seguem o curso deste mundo, e estão sob o domínio de satanás (v.2). Onde está a liberdade do homem? Ele está espiritualmente morto, e assim não pode escolher as coisas de Deus. Mais ainda, ele está escravizado ao diabo, e não possui autonomia ou independência para caminhar rumo ao Senhor.
Em face da observação do texto, qualquer defesa do livre-arbítrio humano em relação a Deus é anti-bíblica e tola, pois se levanta contra a sabedoria de Deus revelada nas Escrituras. Qualquer defesa de autonomia, independência, liberdade ou capacidade no homem resta apenas como manifestação de orgulho e demonstração da ignorância e rebeldia humana. Mesmo por parte de cristãos.
Outra noção comum diz respeito às crianças menores. Muitos são os que defendem a sua inocência, vez que elas não cometeram pecados, e nem possuem consciência para isto. O apóstolo diz que os homens são alvo da ira de Deus por natureza (v.3), e não por obras. Assim, não é simplesmente a prática do pecado, mas a natureza pecaminosa do homem que o torna abominável ao Senhor. Se as crianças, quando morrem ainda nesta fase da vida, são salvas ou não, isto é outra questão. Mas a Bíblia deixa claro que mesmo os mais novos (e que parecem tão inocentes), possuem uma natureza avessa ao Pai, que os torna passíveis e merecedores da ira e condenação.
A idéia de regeneração também é distorcida na atualidade por muitos. Dizem que o homem nasce de novo após crer e se arrepender dos seus pecados, como se pudesse fazer nascer de sua natureza ímpia e perversa um sentimento bom e a humildade que leva a Deus. Poucas coisas são tão incoerentes quanto este pensamento. Assim como é impossível para o homem sem Deus escolher a Cristo, é contra a sua natureza que ele consiga despertar em si elementos de procedência divina, como a fé e o arrependimento. Paulo diz que Deus amou o pecador incapaz e deu a ele vida, ressuscitando-o com Cristo (vv.5,6). A regeneração também acontece sem a participação do homem, pois um morto não pode contribuir para ter vida, ele apenas recebe de alguma fonte exterior.
A despeito do que alguns pensam, a salvação do homem não tem fim nele mesmo, mas em Deus. Paulo nos afirma que o propósito de nossa vivificação e ressurreição com Cristo é a exibição pública das abundantes riquezas da graça de Deus (v.7). Somente Deus merece a glória, mesmo quando algo é realizado em favor de outros.
Alguns se gabam de exercer a fé. Paulo destrói o orgulho humano ao afirmar que toda a salvação do homem vem de Deus, inclusive a fé (v.8). Afirma ainda que não há espaço para qualquer glorificação dos seres humanos, pois tudo vem de Deus e vai para Ele.
Por fim, há ainda aqueles que reservam pelo menos as boas ações para si. Dizem que as suas boas obras são manifestações autênticas de sua essência, e assim acabam por fazer um bezerro de ouro dos seus “nobres” atos. Novamente, Paulo massacra esta falsa idéia ao afirmar que mesmo as boas obras que fazemos hoje foram projetadas por Deus de antemão. Desta forma, não recebemos glória nem pelas coisas boas que fazemos.
A salvação pela graça é toda um escândalo para quem busca defender a participação do homem neste processo. O texto diz que o homem é incapaz, diz que ele era escravo e andava somente contrário a Deus. Mas afirma que Deus o amou, o ressuscitou, e que o faz andar em boas obras previamente preparadas. Percebe-se, pelas afirmações do apóstolo, que as tentativas contemporâneas de reservar algum espaço para o homem, ainda que seja um mísero milímetro, são formas anti-bíblicas e anticristãs de negar a realidade e profundidade da graça de Deus, e dar glória ao homem.
A Bíblia derruba absolutamente estes falsos conceitos, e coloca todos os cristãos prostrados diante do trono, reconhecendo a sua incapacidade, humilhando-se, e exaltando unicamente ao Senhor de toda a terra.
Sola Scriptura.
Sola Gratia.
Sola Fide.
Solus Christus.
Soli Deo Gloria.
2 comentários:
Allen, sempre leio o que tens escrito . não sei porque ainda não tinha feito nenhum comentário sobre o quanto tuas palavras têm acrescido em minha vida, principalmente agora[depois te explico esse agora].
esse texto é muito, muito interessante, a comparação não poderia ter sido melhor. será que posso compartilhá-lo com os jovens daqui do João de Deus?!
saudades, moço. apareça.
p.s: também amo desenhos animados[de boa qualidade e que não sejam em 3D(hihihihi)]
Olá ....,
obrigao pelas palavras! E é mto bom saber que tenho ajudado em alguma coisa!
Fique à vontade para usar com o pessoal da IPJD!
Preguei lá no dia 30 de setembro, pela manhã. Vc n tava por lá?
abraço
:) SDG
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