sábado, 29 de novembro de 2008

O discipulado através da amizade

Quando eu era criança (e até hoje) havia um processo específico para o novo convertido, denominado discipulado. A idéia era ter um tempo semanal entre discipulador e discípulo para a iniciação na fé cristã. Lembro-me de minhas lições quando criança - o discipulador visitava a minha casa e ensinava o bê-a-bá doutrinário.

Acredito que em alguns lugares esta abordagem seja útil. Possivelmente, pelo estilo de vida de algumas comunidades, é possível esse tipo de visita e ensino, bem como a utilização daquelas revistinhas comuns sobre o início da jornada cristã.

Ainda assim, considero o contexto de uma capital não tão grande, como São Luís, suficiente para complicar, em alguns momentos, o uso desta abordagem. A distância pode atrapalhar as visitas, a dificuldade de agendas entre discipulador e discípulo pode gerar incômodos, e o formato dos livrinhos de discipulado muitas vezes complica mais do que ajuda.

Como pensar, então, o discipulado em uma nova perspectiva? Respondo: não é preciso pensar em um novo prisma. Basta o velho. Mas o velho mesmo, não o "velho recente", de 30 ou 40 anos atrás. Refiro-me ao modelo apresentado nas Escrituras, utilizado por Jesus, Barnabé e Paulo.

Obviamente os contextos foram diferentes, e assim se percebe variações na forma de aplicação da idéia, mas basicamente os exemplos citados utilizaram a amizade para a prática do discipulado.

Eis alguns pontos favoráveis à aplicação da amizade como instrumento do discipulado:
  • A amizade possibilita verdadeira comunhão, e não apenas encontros superficiais de troca de informação entre tutor e tutelado;
  • A amizade desperta a confiança do discípulo no discipulador, e permite o diálogo franco, a troca de idéias, as perguntas, bem como a prestação de contas e a confissão de pecados;
  • A amizade demonstra a vida do mestre ao seu aprendiz, confirmando a mensagem por ele transmitida (se a vida do discipulador contradisser a sua palavra, transforme-o em um discípulo primeiramente);
  • A amizade também permite ver as fraquezas do discipulador, e demonstrar que ele é humano e gente como o resto dos mortais;
  • A amizade promove situações naturais de crescimento. Os eventos do dia-a-dia serão encarados à luz das Escrituras, e darão o roteiro do estudo. Assim é possível observar a Graça de Deus na vida humana, bem como a atualidade e suficiência das Escrituras;
  • A amizade permite que "sair pra tomar um sorvete," ou "assistir um filme," sejam grandes momentos de ensino (já aproveitei isso algumas vezes) - [só pra ilustrar o ponto anterior];
  • A amizade permite que, mesmo após o "período do discipulado", ou quando o livrinho tiver sido completamente utilizado, o processo de mentoreamento continue. Basta continuar a amizade que a troca de ensinamentos continua. Um programa contínuo e agradável, dentro e fora da igreja, mas sempre com Deus.
Algumas observações, para que eu não seja mal interpretado:

1. Não, não sou absolutamente contra o modelo antigo de discipulado. Apenas prefiro o estilo da amizade, que entendo ser mais bíblico.
2. Sim, tenho minhas reservas quanto a muitos livrinhos de discipulado que são pouco bíblicos e colocam o discípulo diante de doutrinas estranhas. Ainda assim, acredito que os bons livrinhos devem ser usados. Que tal utilizar livros diferentes? Que tal discipular alguém com "O peregrino", de John Bunyan?
3. Não, não sou desses pós-modernos que querem destruir as coisas antigas e estabelecer um modo "fluido" de viver. A mim basta a graça de Deus - isto é mais relaxante que qualquer fluidez das incertezas contemporâneas. Ao mesmo tempo, preciso ser bíblico, e não posso estabelecer um padrão que as Escrituras não estabeleceram. A tradição não está acima da Bíblia.
4. Sim, curto muito a amizade. Por meio dela sou discipulador e discípulo.

Por fim, isto ainda nos convida a repensarmos o conceito de discipulado, convencionado por muitos como algo distinto do evangelismo.
Uma breve mudança de perspectiva permitirá que os nossos amigos não-cristãos sejam, em algum sentido, nossos discípulos, e alvos do nosso evangelismo.

{obviamente não esgotei o assunto. Mas tá tarde e eu tenho provão amanhã cedo. Comentem que a gente troca umas idéias}

3 comentários:

Juan de Paula disse...

Allen,

obrigado pela postagem: como sempre, acertando em cheio.

Creio que o valor do discipulado é fundamental para a prática e caminhada cristã.

Hoje fala-se mto em espiritualidade (e tem que ser falado msmo) mas precisamos ter cuidado p n exercermos uma espiritualidade individualista sem perder a noção comunitária da nossa fé em Cristo.

O discipulado é um mandamento do Senhor Jesus (Mt 20:28 - conhecido verso da gde comissão) e precisa ser resgatado numa época de tanta ênfase individualista.

Deus continue a te usar,
siga firme,
Juan

Daniel disse...

Allen, Acredito que a direção correta é esta que você apontou. Uma abordagem muito "amigável" do discipulado. O discipulado é a essência da missão a que o Mestre nos comissionou.

Pablo Ramada disse...

Eu também lembro meu caro.