quarta-feira, 8 de abril de 2009

Saúde física, espiritual e a prática da vocação – parte 2

DE VOLTA DAS FÉRIAS:

Saúde física, espiritual e a prática da vocação – parte 2

      1. SAÚDE EMOCIONAL/ESPIRITUAL

Talvez as percepções sobre a integralidade do ser humano estejam em baixa. Nós insistimos em particularizar o indivíduo, e seccioná-lo em diferentes categorias. Assim, existem aqueles que desejam cuidar do físico, sem nenhuma preocupação com o âmbito emocional-espiritual.

O resultado disso são pessoas “saradas” e doentes (com o perdão do trocadilho). Corpos esculturais, ou pelo menos com uma aparente saúde de ferro (os exames comprovam isso), mas com o elemento invisível completamente desajustado.

A RELAÇÃO VISÍVEL-INVISÍVEL

Deixem-me falar mais sobre o “elemento invisível”. No contexto do ser humano integral, este aspecto tem um peso considerável. Um homem extremamente sábio afirmou que “o coração alegre aformoseia o rosto, mas com a tristeza do coração o espírito se abate” (Provérbios 15.13). Isso indica pelo menos uma relação fundamental [e direta] entre a situação emocional/espiritual sobre a questão física/estética: O coração alegre (condição emocional e espiritual) influencia o rosto (condição física e estética) e a tristeza (aspecto emocional) abate o espírito (elemento espiritual).

Interessante, não? A tese do versículo é que, os elementos concretos e abstratos estão relacionados. Não é propriamente uma descrição das faculdades do homem, nem um exame detalhado de cada elemento, mas apenas a descrição de um ponto de contato existente.

Exatamente mesma idéia pode ser encontrada em Provérbios 17.22: “O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos”. O salmista demonstra que, enquanto a sua condição espiritual era ruim, o seu físico era destruído aos poucos – falando sobre pecados não confessados: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia” (Salmos 32.3).

OS EFEITOS SOBRE A ESFERA INVISÍVEL

O cansaço e a doença descritos no item anterior vieram acompanhados de problemas no âmbito espiritual e emocional. A evidência mais nítida que pude perceber foi um completo desânimo para tudo e todos. Não queria fazer nada, nem ver ninguém.

Fui um completo idiota, afastando-me até (eis, então, a razão mais forte de eu me considerar um estúpido) de minha doce namorada. Não acredito que tenha sido grosso ou mal educado com as pessoas à minha volta, mas era nítido para mim o distanciamento cada vez maior de todos. No fim das contas, era uma distância deliberada.

Escrevendo agora eu vejo o contraste entre as palavras constância e distância. Eu abusei da primeira nas atividades, serviços, etc., e tudo o que me restou foi a segunda.

Outra característica forte foi a minha indisposição para a leitura. Ora, se existe algo para o qual eu não preciso de qualquer estímulo (nas minhas condições normais de temperatura e pressão – CNTP), é para a leitura de um bom livro. Mas naqueles dias nem mesmo “um bom livro” era algo interessante para mim.

Correndo o risco de ser dramático, mas arriscando tudo pela beleza de um bom relato, aquele período, especialmente o fim de semana após o retiro, foi o derramar de um litro de tinta cinza sobre meus olhos. Nada tinha cor e vida. Nada despertava interesse e empolgação. Nada parecia merecer qualquer esforço. Nada me tirava daquele sentimento de apatia e lerdeza.

A INFINITA GRAÇA

Deus decreta e permite determinadas situações para a glorificação do Seu nome, e a edificação do Seu povo (Rm.8.28). Assim, Ele me permitiu entender o universo cinza como uma falha não do mundo externo, mas dos meus olhos.

Não eram as pessoas e coisas que se tornaram desinteressantes, mas eu que não estava observando-as adequadamente. Como o alarme de um carro que informa o perigo, ou a campainha de uma escola informando a hora do recreio, algo indicou que, tanto eu estava correndo risco, como era o momento de ir para o intervalo sem aulas – algum descanso, afinal.

IMPACTOS COLETIVOS DA REALIDADE INDIVIDUAL

O texto de Atos 20.28, no qual Paulo conclama os líderes a cuidarem de si e do rebanho de Deus indica a interação entre a vida do líder (indivíduo) e dos liderados (comunidade). A falta de cuidado sobre si implica a dificuldade na ministração aos demais.

Alguém que não se preocupe com a sua saúde terá dificuldades em cuidar da saúde de outros, por melhor intencionado que esteja. Não se trata de conhecimento ou capacitação para cuidar, aconselhar, pregar, visitar, etc., mas da possibilidade real de fazer o trabalho de um pastor.

Como algumas pessoas já devem ter percebido até aqui, embora a ênfase esteja no ministério pastoral e no serviço eclesiástico, a extensão desses princípios alcança as mais variadas formas de serviço.

TRATANDO O DESÂNIMO

Como cuidar de pessoas desencorajadas, deprimidas, ou simplesmente tristes? Com variações nos casos concretos, deve-se perceber os princípios deixados pelo Senhor em Sua Palavra.

Primeiramente, a fonte de toda alegria é o próprio Deus. Isso significa dizer que o desânimo é combatido com fortes doses de meditação bíblica, oração, e as demais disciplinas espirituais, que nos fazem contemplar o Senhor.

Algumas pessoas caminhariam no sentido inverso. Tentariam colocar toda a ênfase sobre a introspecção, e buscariam olhar apenas para si, avaliar o seu problema. Tentariam obter auto-conhecimento, ou mesmo buscariam a ajuda de um psicólogo para saber mais sobre si. Embora a introspecção tenha o seu lugar, a cura para os males humanos não está no olhar para si mesmo, mas primeiramente para Deus.

Este é o belo paradoxo da graça: você é salvo quando olha para fora de si, quando busca agradar a Deus mais do que a si mesmo, quando está mais preocupado com a glória de Deus do que com sua própria salvação.

Quando se parte da fonte de alegria e prazer, as outras medidas têm real sentido e eficácia. Somente assim se pode caminhar para a introspecção ou qualquer outra medida terapêutica adotada.

APLICAÇÕES PARA OS DESANIMADOS

    1. Investigue, analise, e perceba as relações entre o visível e o invisível nas Escrituras e em sua vida

    2. Compreenda que existe graça para tirar você da apatia

    3. Liste as formas como o seu marasmo tem afetado outras pessoas

    4. Desafie o desânimo com os princípios bíblicos – Olhe para Deus mais do que para você

Um comentário:

Roberto Vargas Jr. disse...

Olá, Allen.
Agora é que entendi porque você disse no outro post (nos comentários) que seu humor estava melhorando. Desejo-lhe melhoras!
Mas não sei se sou capaz de entender o que você está passando. Meu temperamento é o oposto disso. Sou absolutamente contemplativo e reflexivo. É difícil para mim me concentrar e fazer bem duas coisas ao mesmo tempo.
De qualquer forma, toda esta sua reflexão sobre o que aconteceu com você é bem interessante. E útil. Dá um bom estudo.
Dê um tempo, cuide-se, mas mantenha-se firme nesse ministério que é abençoador, esteja certo disso!
No amor do Senhor,
Roberto