domingo, 31 de maio de 2009

Uni-verso

No meu universo os livros falam, as pessoas lêem, e as doutrinas caminham de mãos dadas. Uma senhora, velhinha, na última cadeira [da última fileira] se levanta e ora, simples e solenemente. Todos acompanham. Ela tem um amigo, adolescente, com quem senta para conversar por longas tardes, ouvir e contar histórias, trocar experiências.

No meu universo, há interação entre velhos e jovens. Nele, a palavra “velho” não é ofensiva. Crianças participam do culto, e mesmo que suas mentes estejam divididas entre montanhas coloridas, a bola de futebol e a mensagem do pastor, elas são atraídos por aquele momento, e observam (calminhas no seu canto) o amor que seus pais têm por aquilo tudo. Mil perguntas  surgem na cabeça. Melhor não perguntar agora, eles acabaram de fechar os olhos para orar.

Há desejo ardente pela redenção de todas as coisas. Todas mesmo. A criatividade encontra espaço para se manifestar e dançar entre os homens felizes, que a contemplam com um grande sorriso e brilho no olhar. A beleza é conhecida – não é preciso procurar muito para encontrá-la. Ela se apresenta claramente na diversidade majestosa das coisas criadas, e nas expressões dos humanos.
No meu universo, a esperança encontra a realidade, e as duas se unem, em um relacionamento eterno e completo. Ali existe harmonia de cores, sons, idéias e línguas. Um caleidoscópio girando para sempre, e continuamente impressionando os seus espectadores.

O trabalho encontra a sua forma mais pura de expressão. As vocações são reconhecidas e valorizadas. Todos servem uns aos outros no cumprimento do seu chamado. O advogado de bermuda conversa com o gari de terno.

Ninguém está preocupado em ser simplesmente prático. Não há interesse exclusivo nos itens justificados pela utilidade. Há lugar para a “beleza inútil” de um guarda-chuvas colorido, ou de uma escultura.  

Lá o homem pode ser apenas um humano, sem ambições de se sobrepor aos outros, ou necessidade de provar e exibir suas conquistas publicamente. O pai é amado e respeitado, a mãe coopera com maestria e os filhos são felizes. Cada um é o que é, e se sente realizado assim. A estrutura é respeitada, e a direção é dada por aquEle que rege todos os universos.

Esta realidade encontrará sua plena realização apenas quando a eternidade nos chamar para os seus braços, mas, como uma criança travessa, este universo insiste em se fazer presente em nosso meio vez ou outra. Estes são os dias mais coloridos, no quais as gargalhadas ressoam em cada canto, os sorrisos são de um branco incomparável, e as gotas de chuva formam o belo arco-íris, sinal da aliança.

Aguardo o dia de este universo nos encontrar, para que os versos únicos da redenção sejam ouvidos: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt.25.34).

Um comentário:

Ivonete Silva disse...

Eu amei esse texto. Muito mesmo.
Tenho desejos tão parecidos!
Lembrei agora de uma música da Marisa Monte chamada "vilarejo". Onde ela fala sobre um universo, um lugar dela também.
"Lá o tempo espera/ lá é primavera/ portas e janelas ficam sempre abertas/ pra sorte entrar/ em todas as mesas pão/ flores enfeitando/ os vestidos os destinos/ os caminhos essa canção/ tem um verdadeiro amor/ para quando você for."