Quais as diferenças entre o "calvinismo" e o "neocalvinismo" ? Elas já causaram muitas controvérsias?
Que interessante... eu tenho pensado um pouco sobre isso nos últimos dias.
Primeiro, preciso dizer que não sou o melhor cara pra responder tal pergunta. Certamente o pessoal do L'abri Brasil, e alguns professores do Andrew Jumper (Mackenzie) têm muito mais base pra trabalhar o ponto.
Dito isto, é preciso também diferenciar alguns usos do termo "neocalvinismo".
Basicamente o termo "neocalvinismo" estava associado à escola holandesa, cujo grande protagonista é Abraham Kuyper.
O problema é que, no último ano, a revista Time publicou um artigo sobre as idéias que estão mudando o mundo, e usou o termo "new calvinism", que alguns optaram por traduzir como "neocalvinismo".
O "neocalvinismo" da revista Time seria melhor traduzido por "novo calvinismo". Refere-se a uma nova abordagem dos reformados, com alcance mais amplo da cultura emergente norte-americana. Nomes como Mark Driscoll e John Piper figuram entre os líderes dessa corrente.
Já o "neocalvinismo holandês", como afirmado acima, não trata apenas de uma aplicação contemporânea do pensamento reformado, mas trabalha parâmetros abrangentes da Escritura, para que ela envolva a totalidade da vida humana.
Talvez a diferença entre o calvinismo e o neocalvinsmo seja uma questão de ênfase. O primeiro enfatiza a soberania de Deus sobre o todo da vida, mas parece dedicar maior espaço para o conhecimento teológico e a vida piedosa no âmbito religioso.
Já o neocalvinismo parece enfatizar a influência do pensamento reformado sobre todas as áreas - política, economia, serviço, moralidade, religião, etc.
O neocalvinismo enfatiza mais diretamente o mandato cultural, no sentido de encorajar os cristãos a interagirem com a cultura, e a produzir cultura, demonstrando uma cosmovisão bíblica. Nesse engajamento cultural, está revelada outra forte ênfase do neocalvinismo: a graça comum.
Por fim, para citar mais duas ênfases peculiares do neocalvinismo, está o motivo básico "Criação, Queda e Redenção" - uma chave de interpretação da história e da realidade; e a noção de "esferas de soberania" - por meio da qual algumas áreas seguem leis criacionais próprias, e assim possuem uma estrutura particular, que não deve sofrer intervenções de outras esferas. A família é uma esfera, o Estado/Governo, outra, e a Universidade, outra. Nessa perspectiva, o Estado não deveria interferir na família (a menos que houvesse abusos), respeitando a soberania dessa esfera e vice-versa.
Acho que já escrevi demais. Como tenho pensado sobre o assunto, pretendo escrever um artigo sobre o calvinismo e o neocalvinismo. Se tudo der certo, até março terei alguma coisa.
Aguarde, e ore para que eu consiga fazer isso.
abraço, e obrigado pela pergunta.
3 comentários:
Essa foi a melhor pergunta até agora....
E a melhor resposta também...
Primeiro agradeço ao Allen e a Ivonete por se interessarem pela minha pergunta. Vejo que alguns "neocalvinistas" negam a validade dos xingamentos, e parecem defender que o cristianismo ortodoxo é coerente, mas talvez esteja errado. Mas isso também existe no próprio calvinismo, se é que podemos chamar algo assim de calvinismo.
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