segunda-feira, 7 de junho de 2010

Fundamentalista ou reformado? J. Gresham Machen e sua resposta ao liberalismo teológico clássico [2]

2 SÍNTESE BIOGRÁFICA DE J. GRESHAM MACHEN

John Gresham Machen nasceu na cidade de Baltimore, estado de Maryland, nos Estados Unidos da América, no dia 28 de Julho de 1881. Sua trajetória nos estudos teológicos sofreu direta influência do contexto no qual foi criado.

Filho de Arthur W. Machen e Mary G. Machen, ambos presbiterianos e seguidores da ortodoxia calvinista, John foi rigidamente educado nos preceitos reformados, tendo sido obrigado, ainda na infância, a decorar o Catecismo Menor1.

A aristocracia sulista norte-americana foi o grupo social no qual estava inserido. Sua riqueza pode ser comprovada pela herança recebida com a morte do avô, quando ainda constava de seus 21 anos – a quantia de 50.000 dólares. Seu berço nobre possibilitou os recursos necessários para uma educação elevada, tendo desfrutado de viagens com sua mãe, e adquirido a formação cultural típica de um aristocrata. O Dr. John Piper afirma que por seis vezes, pelo menos, Machen realizou viagens à Europa.2

Aos dezessete anos, Machen iniciou os estudos na Universidade Johns Hopkins, e se formou em 1901, com altas honras. Ali foi aluno do distinto professor de grego clássico, Basil L. Gildersleeve.3

Após estudos de pós-graduação na Johns Hopkins, Machen iniciou os estudos no Seminário e na Univesidade de Princeton. Foi aluno de Francis L. Patton e Benjamin B. Warfield. Aprofundou-se nos estudos do Novo Testamento, obteve um mestrado em filosofia na mesma instituição, e demonstrou seu interesse por temas ortodoxos, como o nascimento virginal de Cristo.

Concluído o curso em 1905, Machen, ainda inseguro de sua vocação ministerial, decidiu continuar os estudos na Europa, tendo estudado nas universidades de Marburg e Göttingen, sob a orientação de renomados professores liberais, dentre os quais, Wilhelm Herrmann.

O contato com tais professores gerou algum impacto em Machen. Conforme o Dr. Valdeci Santos, “assim como Abraham Kuyper, Machen sentiu-se inicialmente atraído pelos argumentos do liberalismo e isso o lançou em um profundo período de questionamento e confusão”.4

Tendo retornado aos Estados Unidos, Machen passou a lecionar no Seminário de Princeton, enquanto ainda lutava com suas dúvidas – por isso não seguiu diretamente em busca da ordenação.

Ao longo dos anos, e com a companhia de Patton e Warfield, as dúvidas de Machen foram dissipadas, e ele se estabeleceu firmemente como um cristão reformado conservador, em oposição ao modelo teológico liberal crescente.

Embora lecionando desde 1906, sua ordenação viria apenas em 1913. No ano seguinte, por ocasião da I Guerra Mundial, ele se tornou secretário da Associação Cristã de Moços (YMCA), servindo em uma base militar na França. Percebeu, pelas situações trágicas da guerra, que o liberalismo mais uma vez falhava em perceber adequadamente a realidade – as suas promessas de paz não atentavam para o presente.

Voltou em 1919 a Princeton, e se firmou como grande nome da Ortodoxia e dos estudos no Novo Testamento. Logo no ano seguinte se envolveu em uma controvérsia sobre a unificação de pequenas denominações presbiterianas – alguns de seus amigos de cátedra eram favoráveis, mas Machen afirmava que esta unificação produziria uma “pluralidade teológica indesejável”5.

Em 1921 e 1923 Machen publicou obras como The origin of Paul's religion e Cristianismo e Liberalismo6. Tais livros o inseriram no contexto da controvérsia modernista-fundamentalista, e assim – especialmente por sua ortodoxia – ele foi considerado um fundamentalista.

Três grupos foram formados na controvérsia acima mencionada: os conservadores, os moderados, e os liberais, e esta divisão repercutiu em Princeton. Exemplo disto foi a difamação sobre Machen – por ser conservador – quando de sua indicação para a cátedra de Filosofia e Ética naquela instituição.

Para solucionar os conflitos surgidos a partir da controvérsia, uma comissão foi designada para avaliar e propor uma solução para o caso do Seminário. A conclusão dos avaliadores foi que era necessário, mais que uma discussão teológica da questão, um trato político-administrativo do problema. Para tanto, decidiu-se reorganizar a Junta Diretora7, passando esta a ser composta de mais liberais e moderados do que conservadores.

Machen protestou contra tal intervenção, apontado para o impacto desta medida.

Se a dissolução da presente Junta Diretora for concretizada... [e] o controle do Seminário passado a mãos inteiramente diferentes, então o Seminário Teológico de Princeton como tem sido tão honradamente conhecido, estará morto, e nós deveremos ter em Princenton uma nova instituição de um tipo radicalmente diferente8.


Como resultado, Machen deixou o Seminário de Princeton, e naquele mesmo ano – 1929 – deu início ao Seminário de Westminster.

Outro problema decorrente desta controvérsia se deu no âmbito missionário. A Junta de Missões Estrangeiras apoiou um relatório entitulado “Repensando Missões”9. Para Machen, o conteúdo daquele relatório atacava a fé cristã histórica. Ele levou isto ao Presbitério, que levou à Assembléia Geral de 1933, mas os atos da Junta de Missões foram aprovados pela maioria.

Com outros líderes conservadores, Machen fundou a Junta Independente de Missões Estrangeiras. Esta Junta possuía mais claramente a vinculação à ortodoxia, com o seu claro calvinismo e rejeição dos postulados liberais. Contudo, a Assembléia Geral de 1934 declarou a instituição desta Junta como inconstitucional, e fruto de rebeldia e insubmissão.

Machen foi levado a julgamento em seu presbitério, sem a posibilidade de apresentar argumentação doutrinária em sua defesa. Como consequência, foi despojado do ministério. Apelou à Assembléia Geral, mas o seu recurso foi indeferido.
Finalmente, Machen e outros 5.000 conservadores fundaram, em 1936, a Igreja Presbiteriana da América, que depois viria a ser chamada de Igreja Presbiteriana Ortodoxa (OPC).

Ao final daquele ano Machen demonstrava o cansaço em seu corpo. Conforme Piper, os companheiros do Seminário Westminster na Filadélfia afirmavam que a aparência de Machen ao final daquele termo era de alguém “mortalmente cansado”10. Ele aceitou o convite para pregar na Dakota do Norte. Naquela viagem contraiu pneumonia e faleceu no dia 1º de Janeiro de 1937.

Segundo a descrição de Piper, visitado pelo Pr. Samuel Allen, Machen deixou como uma de suas últimas declarações: “Sam, a Fé Reformada não é grande?”11.


*As notas de rodapé só estão disponíveis no artigo em PDF, disponível na página de artigos e publicações.

Nenhum comentário: