“Disse, porém, Moisés ao Senhor: 'Ó Senhor! Nunca tive facilidade para falar, nem no passado nem agora que que falaste a teu servo. Não consigo falar bem!'. Disse-lhe o Senhor: 'Quem deu boca ao homem? Quem o fez surdo ou mudo? Quem lhe concede vista ou o torna cego? Não sou eu, o Senhor? Agora, pois, vá; eu estarei com você, ensinando-lhe o que dizer' ”. Ex.4.31
Esta é, provavelmente, a primeira batalha para a libertação do povo de Israel em relação ao Egito. Moisés engajou-se em uma luta com Deus para não ser o líder do povo hebreu, e o Senhor, pacientemente, demonstrou a fraqueza dos argumentos de Moisés, convocando-o solenemente para o serviço.
Observamos constantemente duas posturas bastante prejudiciais quanto à liderança cristã. Em primeiro lugar, percebemos aqueles que, sem nenhum temor, colocam-se em tal posição, demonstrando sua incapacidade para o serviço. Exercer a tarefa da liderança sem temor é desconsiderar a sua importância. Aliás, realizar qualquer serviço ao Senhor sem aquela parcela de reverência e medo necessária indica que provavelmente esquecemos para quem estamos realizando tal tarefa, ou, pior ainda, que desconsideramos o nosso Deus. Todo servo deveria ter diante de si a imagem do seu Senhor, a fim de ter sempre em mente para quem ele faz o que faz. Os “líderes” que procedem desta forma talvez nem deveriam ser chamados de líderes em primeiro lugar, pois sua conduta aponta para uma vida imatura e destituída de sabedoria. Eles não se preocupam em reconhecer o chamado Divino, mas, pela atração da imagem de líder (por vários motivos), prontificam-se para liderar.
Em segundo lugar, percebemos aqueles que se comportam como Moisés. Mesmo diante do claro e irrefutável chamado Divino, temem profundamente e não querem obedecer. Tais pessoas olham para a grandeza do serviço, também para suas próprias limitações e se consideram incapazes de servir, ou ainda demonstram sua preguiça e indisposição para fazer o que Deus lhes ordenou. Embora não cometam o erro de desconsiderar o Senhor e a tarefa, alcançam o outro extremo, tão ruim quanto o primeiro. Quando exercemos um serviço sem temor ao Senhor, normalmente nos esquecemos de Quem é o Alvo do nosso labor. Da mesma forma, quando colocamos os nossos medos e limitações como empecilhos para o nosso serviço, esquecemos de Quem está nos chamando. Todas as duas posturas são reprováveis e pecaminosas. Deus sabe muito bem de cada uma das nossas fraquezas, e ainda assim decidiu nos vocacionar para uma excelente tarefa. Há ainda uma incrível dose de irracionalidade neste último comportamento. Dizer para o Todo-Poderoso que não podemos servir porque somos fracos em alguma área pode soar como uma grande piada de mal gosto. Se reconhecemos a onipotência de Deus, isto deveria ser suficiente para nos calar, e para reconhecermos que Deus fará o necessário para que a Sua vontade se cumpra, mesmo com todas as nossas limitações.
Embora o texto nos guie na direção de falar sobre a liderança, isto pode ser aplicado a qualquer outra área de serviço ao Senhor. É imprudente nos colocarmos em um lugar sem temor, e também é irracional colocarmos as nossas fraquezas como empecilho para obedecermos ao chamado do Pai.
Isto explica em parte a dificuldade encontrada no âmbito da liderança em muitas igrejas. Algumas pessoas que lideram nunca deveriam estar lá em primeiro lugar. Outras ainda estão se escondendo atrás de suas dificuldades, acreditando serem sábias por não 'tomarem uma decisão precipitada', quando na verdade a sua falta de inteligência é atestada pela desobediência ao chamado do Pai.
Muitas são as lições e aplicações deste texto e aqui destacaremos algumas:
1. Não existem desculpas para sermos desobedientes. Deus já sabe de nossas fraquezas e ainda assim nos chama. Devemos, então, ao reconhecermos o chamado Divino, cumprir a tarefa proposta. Somos obedientes ou criamos desculpas para não servir?
2. O antídoto para nossas fraquezas é o conhecimento de Deus e o reconhecimento do Seu poder. Quando Moisés colocou as suas limitações diante do Senhor, recebeu como resposta uma exposição da grandeza e poder Divino. Da mesma forma, quando olharmos para nossas dificuldades, deveríamos nos lembrar dos atributos de Deus, e de como não há coisa difícil para o Pai. Conhecemos a Deus o suficiente para reconhecer o Seu grande poder? Como podemos conhecê-lo? Quanto tempo temos investido na leitura da Bíblia e o que isto diz sobre nossa comunhão com o Pai?
3. Deus acompanha aqueles que servem
4. Os resultados pertencem ao Senhor. Deus não chamou Moisés para executar por si mesmo a libertação do povo de Israel. Moisés seria apenas o instrumento utilizado por Deus para demonstrar o Seu poder e glória (Faraó também seria um instrumento para isto). Assim, diante do chamado, deveríamos confiar na sabedoria e poder de Deus, que executará a Sua vontade por meio de servos obedientes, que não medem esforços para cumprir a sua tarefa. Descansamos na certeza de que nada frustrará os planos do Senhor? Como isso é bom para nós? Que perigos devemos evitar pensando desta forma? Por que não podemos negar esta verdade?
Deus seja louvado por nós, através de vidas que temem o Senhor e são obedientes, cumprindo a vocação para a qual foram chamadas.
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