quinta-feira, 24 de julho de 2008

Bíblia e Palavra de Deus, perguntas e convite


Ao fazer uma síntese da teologia de Karl Barth, H. R. Mackintosh* (2002, p.306) descreve:

"(...) podemos dizer que a Bíblia é a Palavra de Deus na medida em que Ele fala por meio dela; e Ele nos fala - uma vez que o que acontece é sempre ação sua - quando uma porção dela toma posse de nós em nome de Deus e pela ação de seu Espírito. Nesse acontecimento concreto vem a ser a Palavra de Deus para nós, e ele faz com que isso aconteça uma e outra vez".

A declaração acima encanta pessoas, e escandaliza outras. Em linhas gerais, percebe-se que, na descrição do autor:

(1) "Bíblia" e "Palavra de Deus" são coisas distintas;
(2) A Bíblia é um meio entre outros que Deus utiliza para falar aos homens;
(3) A ênfase não está no conteúdo do texto bíblico [objetiva], mas na reação humana ao trecho lido ("...uma porção dela [da Bíblia] toma posse de nós [o leitor]...") [subjetiva].

Existem implicações destes pontos que determinam a vida de uma igreja:

(1) Se "Bíblia" e "Palavra de Deus" são coisas distintas, a Bíblia pode ser dispensada, ou deixada em segundo plano, na medida em que a Palavra de Deus seja revelada de outras formas;
(2) Se a Bíblia é um meio entre outros utilizados por Deus, deve-se dar preferência aos meios que Deus mais utiliza, e que sejam mais agradáveis aos homens (nem sempre a leitura da Bíblia é algo fácil e agradável para alguns);
(3) Se a ênfase está na resposta humana e não no conteúdo, é melhor que a igreja busque promover esta resposta de outras formas (utilizando elementos que toquem mais o espírito humano, como músicas, peças, filmes, etc. - sem desprezar a ação do Espírito Santo, como na descrição do autor acima citado). Além disso, o conteúdo da fé perde primazia diante da forma e do sentimento despertados. Não há mais ortodoxia ou heterodoxia, pois o conteúdo é o de menos.

Pois bem, agora pergunto:
E se alguém, fazendo a sua leitura diária, chegar ao texto de 2Tm.3.16,17 e sentir esta experiência na qual o texto se transmuta em Palavra de Deus?
Pausa para digressão. O texto diz: "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra".
Continuando a pergunta:
Nesse caso, a Palavra de Deus disse que [toda] a Bíblia é a Palavra de Deus.
(1) Isso vale só para aquele leitor específico?
(2)Se sim, todas as vezes que ele ler a Bíblia agora, estará lendo a Palavra de Deus?
(3)Se a resposta da pergunta acima for "não", então Deus mentiu ao dizer que toda a Escritura é divinamente inspirada (e, portanto, Palavra de Deus) ?

Se você achou toda esta "viagem" interessante (ou não), espere pra ver o II FÓRUM ESL. Aguardo você por lá.
Sábado, 26Jul. 15h. Monumental Shopping, Sala 548. Entrada Franca.



*Obra citada: MACKINTOSH, H. R. Teologia Moderna: de Schleiermacher a Bultmann. São Paulo: Novo Século, 2002.

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