quarta-feira, 9 de junho de 2010

Fundamentalista ou reformado? J. Gresham Machen e sua resposta ao liberalismo teológico clássico [4]


4 A REAÇÃO DE J. GRESHAM MACHEN AO LIBERALISMO TEOLÓGICO

Possivelmente Machen não tinha visto os resultados do liberalismo em sua plenitude. O “produto final” certamente ainda não estava completamente desenhado diante dele. Mas a percepção de para onde a teologia liberal clássica levava, em suas diferenças quanto à ortodoxia, causou a reação dele.

Novamente, é necessário ressaltar que o estudioso do Novo Testamento não estava sozinho nem era pioneiro nesta resposta. Antes dele, e junto a ele, Benjamin Breckinridge Warfield (1851-1921), sucessor de Alexander Hodge em Princeton, já tecia as críticas reformadas ao pensamento liberal. Segundo Mark Noll1, Warfield é mais conhecido hoje por sua defesa da inerrância Bíblica.

Como descrito na síntese biográfica, Machen experimentou dúvidas em sua fé como consequência do relacionamento com seu professor liberal, e da aparente piedade deste. Somente com o o devido acompanhamento de Warfield e Patton em Princeton, as dúvidas foram se dissipando e ele se estabeleceu como um conservador.

Por sentir “na pele” os males do liberalismo, Machen reagiu tão intensamente. Ele sabia com o que estava lidando por ter sido seduzido por tal perspectiva, por ter estudado com pessoas desta linha, e por conhecer a ortodoxia.

A resposta de Machen veio principalmente através de suas palestras e escritos. Alguns dos mais conhecidos são The origin of Paul's religion (As origens da religião de Paulo 1921) e Cristianismo e Liberalismo (1923). Apenas o último título foi publicado em português.

O título da obra pressupõe que o liberalismo é algo distinto do cristianismo, e assim Machen tratou a questão na obra, que apresenta o credo ortodoxo enquanto contestava as premissas liberais.

Outros escritos, como What is Faith? (O que é a fé?, 1925), The virgin birth of Christ (O nascimento virginal de Cristo, 1927) e The Christian faith in the modern world (A fé cristã no mundo moderno, 1936) corroboram a resposta de Machen em tônicas diferentes do pensamento liberal.

Além dos escritos, as preleções de Machen foram importantes no combate ao liberalismo. A pregação da verdade atuava como grande arma contra o erro. Alguns dos livros acima listados foram publicados a partir de palestras proferidas no Union Seminary e no Columbia Seminary.

O foco principal da reação de Machen foi o âmbito teológico. Ele escreveu e pregou contra os desvios doutrinários do liberalismo, para que a igreja reconhecesse e rejeitasse o erro. Ao mesmo tempo, na medida em que as políticas administrativas eram utilizadas, Machen recorreu ao que pôde para preservar as instituições cristãs.

Ele reagiu contra a junção das pequenas denominações presbiterianas, considerando o problema da pluralidade doutrinária que dali decorreria, manifestou publicamente sua resistência quanto à proposta de reorganizar a Junta Diretora de Princeton, protestou oficialmente ao presbitério, e indiretamente à Assembléia Geral contra a aprovação do relatório Rethinking Missions – que trazia em seu bojo pressupostos liberais - , e apelou diante da decisão que o despojou do ministério.

O quarto tipo de reação de Machen, além dos escritos, palestras e uso de recursos administrativos, foi a criação de instituições para o ensino e divulgação da fé ortodoxa. Nesse contexto são contados o Seminário Westminster, a Junta Independente de Missões Estrangeiras, a revista Christianity Today e a revista The Presbiterian Guardian. Por meio destes órgãos, Machen treinou pessoas no pensamento reformado, dando-lhes ferramentas para exercerem o trabalho evangelístico e apologético requerido nos seus dias. Por meio de iniciativas mais amplas, como as revistas mencionadas, Machen alcançou não apenas acadêmicos, mas outros cristãos, que foram edificados com a verdade.

A reação de Machen foi forte e intensa, característica de quem reconhece o perigo daquilo a que se opõe. Ele percebeu o ataque liberal ao cristianismo, e, ao notar o espaço que o liberalismo reivindicava dentro da igreja cristã, não poupou esforços para deixar claros os limites que separavam a mentalidade moderna presente no liberalismo, da mentalidade cristã ortodoxa/reformada.

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