quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Missões e(m) crise [5]


5 A REDUÇÃO DO EVANGELHO A QUESTÕES SOCIAIS

Este último problema a ser comentado decorre de outros dois anteriores. A redução do evangelho a práticas sociais, como a ajuda aos pobres, é fruto da «esquerdização» do evangelho, bem como do irracionalismo da neo-ortodoxia.

Alister McGrath[24] demonstra o perigo do marxismo em sua filosofia materialista: «idéias, incluindo as religiosas, são respostas à realidade material». O materialismo, pressuposto da perspectiva esquerdista, leva as suas implicações para aqueles que desejam fazer síntese entre o evangelho e o esquerdismo. Como consequência, a esfera sobrenatural e metafísica vai perdendo o lugar – embora ainda esteja presente nos credos – e sendo substituída por uma visão cada vez mais centrada nas necessidades materiais e terrenas do homem.

Lenin[25] afirmou que «o trabalhador de hoje que possui consciência de classe [...] deixa o céu para os sacerdotes e burgueses hipócritas. Ele luta por uma vida melhor para si mesmo, aqui na terra». Esta visão é assimilada por jovens evangelistas, cuja pregação está voltada para temas da agenda ideológica, sem muita preocupação com a eternidade e a alma humana. Preocupam-se tanto com a transformação terrena que esquecem de falar de arrependimento e conversão. Amam tanto os oprimidos, que conferem-lhes o grau de santos, independemente de sua confissão e prática.

A influência da teologia da libertação neste quesito é notável. Embora ainda se considerem evangélicos, e assim mantenham certa distância dos autores de outras igrejas, homens como Leonardo Boff, Frei Betto e cia. são vistos como heróis por seu engajamento social. A teologia deles é recebida e legitimada por sua prática nas lutas humanas[26]. Gary North[27] trata da teologia da libertação como uma religião política – uma adaptação do marxismo à esfera religiosa, em prol do comunismo. Stanley Grenz[28] descreve o pensamento do teólogo Gustavo Gutiérrez como uma linhaque busca a reinterpretação da salvação: «Nos dias de hoje, especialmente na América Latina, a salvação deve ser reinterpretada em termos qualitativos – como um compromisso com a transformação social –, pois esta é a 'única maneira de termos um encontro com Deus'».

A neo-ortodoxia também caminha para o «evangelho social». Não é difícil traçar o caminho trilhado neste campo: aceita-se a contradição como natural no evangelho, e assim a noção de verdade é destruída. Uma vez perdida a verdade, as certezas se vão, uma após a outra, até sobrar apenas uma expressão social do evangelho – a única manifestação palpável de alguma crença.

Não importa mais a discussão de doutrinas e o ensinamento de «bases da fé». O que resta é a ação em direção aos nossos semelhantes. O existencialismo adotado por teólogos desta linha se adequa perfeitamente a esta noção, que busca se aproximar do homem e compreendê-lo em suas crises existenciais.

O que melhor para ajudar o homem de maneira «concreta», do que o auxílio financeiro ou algo desta ordem?

E assim o evangelismo deixa de ser a proclamação da verdade salvadora de Deus, para se transformar em um conjunto de práticas sociais, destituídas de qualquer mensagem: a prática pela prática.

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[24]MCGRATH, Alister. Apologética Cristã no século XXI. São Paulo: Vida, 2008.p.273.
[25] LENIN apud. MCGRATH, Alister.Op. Cit., p.275.
[26] Cf. O tópico «esquerdismo», que demonstra sites de missionários que recomendam a leitura dos teólogos da libertação.
[27] NORTH, Gary. Liberando la tierra ¿Regeneración o revolución? Tyler, Texas: Institute for Christian Economics, 1987.
[28] GRENZ, Stanley. A Teologia do Século XX: Deus e o mundo numa era de transição. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. p.265.

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