sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Reforma e o cristianismo mediano [medíocre] (2)

(...continuação)

SOLA SCRIPTURA

Os cristãos daquele período caminhavam sob a máxima do “Somente as Escrituras”. Isso significa dizer que a autoridade última sobre a vida do cristão é a Palavra escrita de Deus. Ela determina o que devemos crer, e como devemos viver.
Tudo o que nos for apresentado como verdade, mas for contrário à Bíblia, deve ser rejeitado e considerado falso, implica tal pensamento.
A lógica é simples: se a Bíblia é a Palavra de Deus, e Ele é perfeito, segue-se que a Sua Palavra é perfeita (como Ela afirma). Desta maneira, é suficiente para regular a vida do cristão em seu relacionamento com Deus, consigo, com o próximo, e com o mundo.
Tudo deve estar submetido à autoridade da Escritura, e, mesmo em situações nas quais Ela não manifesta abertamente a vontade de Deus, existem princípios a serem aplicados.
Assim o cristianismo da Reforma ganha força cultural – brota do poder que vem da Palavra de Deus.

SOLA GRATIA

O “Somente pela graça” ensina que a salvação do homem é dada por Deus sem qualquer mérito humano. Deus decidiu abençoar o Seu povo sem que este fizesse algo para merecer.
O ensino da Reforma, acompanhando o que a Bíblia demonstra, indica que não apenas o homem deixou de fazer algo para merecer a salvação – ele é completamente incapaz de fazer qualquer coisa.
A salvação somente pela graça exclui a participação humana, e demonstra a iniciativa de Deus em produzir o bem para seres pequenos, frágeis, incapazes e pecadores.
Na prática, isso transformou pecadores arrogantes em homens humildes, conhecedores de sua maldade, de suas limitações, e do amor de Jesus. Pessoas assim se relacionam melhor umas com as outras.

SOLA FIDE
“Somente pela fé”, diz esta máxima. Alinhada ao princípio anterior, que revelou o desmerecimento do homem diante das ações de Deus, este princípio anula o papel das (boas) obras na salvação humana.
Alguém poderia argumentar que nunca fez mal a ninguém, foi caridoso, ajudou aos pobres, e, portanto, merece “ir para o céu”. O Sola Fide ensinado pelo cristianismo da Reforma demonstra a realidade de que as nossas obras são insuficientes para satisfazer a justiça de Deus. Nós recebemos as Suas bênçãos única e exclusivamente pela fé.
Na prática, isso libertou os cristãos de tentarem “comprar” a salvação de Deus pagando as famigeradas indulgências, ou fazendo outros sacrifícios. Isso libertou os cristãos para experimentarem alegria com base em uma fé viva, que recebe passivamente aquilo que foi conquistado para os filhos de Deus.

SOLUS CHRISTUS
A fé, no entanto, não pode ser vazia. “Não basta ter apenas fé, é preciso crer na Pessoa certa”, diriam os cristãos do período da Reforma. O “Somente por Cristo” ensina esta premissa.
Cristo é o único caminho para o Pai, o exclusivo Salvador, e o Mediador entre Deus e os homens. Somente Ele cumpriu perfeitamente a justiça Divina em sua encarnação, vida perfeita, morte e ressurreição, garantindo para o Seu povo as bençãos da graça.
Desta maneira, a fé do cristão deve ser voltada somente para o Senhor Jesus.
Na prática, isso revela um caráter centrado em Deus. O cristianismo da Reforma estava voltado para Jesus, e O considerava em todas as coisas.

SOLI DEO GLORIA
Como conseqüência dos pontos anteriores – uma vida pautada na Bíblia, com o reconhecimento da graça de Deus, vivendo a justiça que vem da fé, e crendo unicamente em Jesus para a Salvação – surge o “somente para a glória de Deus”. Para o cristianismo da reforma, nenhuma área da existência humana deve estar fora deste propósito, pois para isso existimos.
Na prática, mesmo as áreas consideradas “menos religiosas” são pensadas dentro de uma visão de mundo cristã. As artes, a ciência, a família, a política, o lazer, a religião, etc. - nada foge ao reinado absoluto de Deus. Isso permitiu que os cristãos vivessem a realidade da fé cristã em cada aspecto, não restringindo a sua vida com Deus ao domingo, ou aos “momentos de devocional”.

A REFORMA EM NOSSOS DIAS
O “barato” desses princípios é que eles são tão aplicáveis hoje, como eram no século XVI. Assim como produziram cristãos convictos e firmes – nada medíocres –, tais máximas podem “sacudir” pessoas como o Jonas e outras dúzias de crentes “mais ou menos” de nossas igrejas, despertando-os para a intensidade da vida com Deus.
A Reforma completa 492 anos no dia 31 de Outubro de 2009. Que tal não esquecermos esta data, e a utilizarmos como um marco para a mudança em nossa postura, abandonando o cristianismo mediado, e entregando-nos à força da vida com Deus?

Um comentário:

Leonardo Bruno Galdino disse...

Allen,

Muito bom o seu texto.
Esperamos muitos desses no 5 Calvinistas (um puxãozinho na sua orelhas! rsrsrs!).

Abraços!