Sou um entusiasta das redes sociais. Não apenas delas, mas de alguma forma tento experimentar as novidades cibernéticas para ver a possibilidade de tê-las como aliadas na glorificação a Deus. Tenho contas em tantas redes que nem conseguirei lembrar de todas, mas pelo menos twitter, orkut, facebook e skoob, estão entre elas. Sendo assim, qualquer crítica tecida aqui não parte de um reacionário virtual – um combatente da internet que acredita ser “www” algum código para o número da besta.
Tenho uma postura relativamente favorável ao uso da internet e redes sociais. Obviamente a aceitação deve ser relativa porque nós, como pecadores, sempre conseguimos estragar as coisas. Muitas são as crianças e adolescentes, por exemplo, que mentem a respeito de sua idade para ter uma conta no orkut. Outros decidem utilizar os álbuns do orkut, facebook, picasa e flickr, pra expor a beleza de seus corpos, e assim algumas dessas exposições passariam tranquilamente por uma seleção para uma revista sensual, ou pior, pornográfica. Pra piorar mais ainda, muitas das tais fotos são de mau gosto – não refletem beleza, nem sensualidade mesmo, mas um apelo terrível para a nudez ou demonstram o foco em partes específicas do corpo. Por isso, refletindo o senso estético de um diretor pornô, tais álbuns são desaconselhados pela repreensibilidade do ponto de vista moral, e pela feiura ali presente.
O que tem me incomodado mais recentemente é a adoção do twitter como um tipo de diário virtual que expõe, não a nudez física dos seus autores, mas a sua nudez intelecto-espiritual. Não há apenas o mau uso daqueles que pensam haver interesse do mundo sobre as suas atividades mais triviais – aqueles tweets do tipo “sentei na cadeira”; “estou com sono”; “vou dormir”; “meu lápis está com a ponta quebrada”; etc. - mas o péssimo uso daqueles que decidem fazer da rede mundial de computadores a sua confidente – abrem o coração e os pensamentos diante do mundo, sem pensar nas consequências de tal exposição desnecessária e perigosa.
Tais informações sobre os pecados confessados via twitter, o estado de humor, as causas de determinado estado de humor, os pensamentos sobre um amigo ou alguém conhecido, etc., etc., contribuem para a destruição de uma imagem pública, ensejam problemas maiores quando vistos por pessoas oportunistas e mal intencionadas, criam confusão quando mal interpretados por alguém, e nunca, nunca mesmo, resolvem os problemas mencionados publicamente.
Um sábio já escreveu que “quando são muitas as palavras, o pecado está presente, mas quem controla a língua é sensato” (Pv.10.19), ou – mais seriamente – “quem guarda a sua boca guarda a sua vida, mas quem fala demais acaba se arruinando” (Pv.13.3). Na época de Salomão, o twitter só existia nos decretos divinos, por isso todos os seus provérbios estão voltados para a fala. Mas acredito que o princípio de sabedoria na exposição dos pensamentos pode, sem nenhum problema hermenêutico, ser aplicado ao caso das redes sociais – especialmente do twitter.
Somos ensinados a pensar bem antes de dar um RT ou responder qualquer tweet em Pv.15.28 - “O justo pensa bem antes de responder, mas a boca dos ímpios jorra o mal” (Pv.15.28). A postura de quem tem discernimento é a da moderação no falar/escrever - “Até o insensato passará por sábio se ficar quieto, e, se contiver a língua, parecerá que tem discernimento” (Pv.17.28).
Outro grupo perigoso é o dos opinadores. Sem buscar a compreensão das coisas, saem falando o que pensam. Contra a tolice destes, a Escritura afirma: “O tolo não tem prazer no entendimento, mas sim em expor os seus pensamentos” (Pv.18.2) e “Você já viu alguém que se precipita no falar? Há mais esperança para o insensato do que para ele” (Pv.29.20).
Somos, assim, encorajados a evitar problema com uma postura sábia nas redes sociais. “Quem é cuidadoso no que fala evita muito sofrimento” (Pv.21.23).
O que nos resta, então, de comentários nas redes sociais? Será que, cortando todos esses pontos que refletem falta de sabedoria, ainda há algo a ser comentado no twitter? É claro que sim! Ainda há muito espaço para a exposição de pensamentos e sentimentos, após a devida reflexão, e com a devida moderação. Ainda podemos falar de uma visão cristã da realidade nos 140 caracteres do twitter. Podemos ensinar verdades eternas. Podemos questionar mentiras contemporâneas. Podemos protestar. Podemos elogiar. Podemos encorajar. Podemos demonstrar amor. Enfim, são tantas as possibilidades, que o sábio não ficará chateado pela ausência de todos aqueles tweets vazios e exagerados, mas celebrará o twitter como um lugar muito mais rico, utilizado para a glória de Deus.
Que tal redimirmos as redes sociais, para a glória de Deus?
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