quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"Tapados" demais para pensar como Cristo

Publicado originalmente no 5Calvinistas

Harry Blamires afirmou, há bastante tempo, não haver mais tal coisa conhecida como "a mente cristã". Isso indica pelo menos duas realidades: a primeira, de que os cristãos cederam ao secularismo e outras correntes da época, deixando a cosmovisão cristã em alguma gaveta de seu armário comportamental, oculta sob uma pilha de lixo ideológico anticristão. Isso não é estranho de se ver: aos montes estão os exemplares de cristãos abortistas, socialistas, pragmáticos, liberais, etc. Simplesmente rejeitaram ou esconderam o modo bíblico de encarar a realidade, substituindo-o por alguma outra coisa, que ainda foi chamada de cristã, mesmo que em oposição direta ao Cristo e Sua doutrina.

A segunda possibilidade, é a de que, não apenas a cosmovisão e os processos mentais direcionados pela Escritura foram reduzidos, mas a própria capacidade de pensar profundamente e compreender as coisas. Nesse sentido, não existiria mente cristã, porque a própria mente em seu sentido mais amplo estaria reduzida às escolhas mais básicas da humanidade: "o que vou almoçar hoje?", "será que é melhor ir ao banheiro agora?", "acho que estou com sono... vou dormir". Este aspecto do fim da mente cristã revela a redução na capacidade de raciocinar e desenvolver reflexões mais elaboradas sobre O Criador, a Criação, e as relações daí decorrentes.

Não me entendam mal, este não é um fenômeno exclusivamente cristão. Há quem estude esta queda abrangente e publique suas pesquisas sobre o assunto, como Allan Bloom, em seu livro "O declínio da cultura ocidental" (ed. Best Seller), ou dê exemplos de como os intelectuais já não são mais como outrora, a exemplo do "imbecil coletivo", de Olavo de Carvalho (ed. É realizações).

Permitam-me ilustrar o ponto entre os cristãos.  Em 2003, o Barna Grupo divulgou os resultados de uma pesquisa sobre a leitura de material cristão entre os americanos. Havia alegria na publicação: metade dos americanos havia lido livros cristãos, e um terço deles estava comprando livros.  Alguns pontos foram interessantes: os politicamente conservadores estão à frente no consumo de publicações cristãs, seguidos dos cristãos não evangelicais (provavelmente reformados e outros grupos). Os adultos e adolescentes evangelicais também merecem destaque na leitura de tais obras.

Embora exista algo de bom em que se esteja lendo livros cristãos, o número ainda é vergonhoso, e não digno de comemoração. A pesquisa demonstra que o adolescente comum comprou, no ano, apenas três livros (é possível que tenha lido mais, mas uma média dessa revela algo sobre o consumo e leitura de livros entre adolescentes). O adulto médio, de quem se poderia - teoricamente - esperar mais, comprou não muito mais do que isso: cinco livros por ano.

Mas essa não é a pior notícia. Alguém poderia argumentar que, se todo adolescente mantivesse a média de ler três livros por ano, e todo adulto lesse cinco no mesmo período, isso já seria motivo de muita alegria e enriquecimento. Eu não sou tão otimista assim. Primeiro porque, sem rebaixar os padrões, ler 3 livros em um ano inteiro é pouco. Soe isso arrogante ou não. Ou, se é para abrir uma concessão, que esses três livros fossem relidos várias vezes ao longo do ano, a fim de captar mais intensamente o seu conteúdo. Outro ponto é que, além da quantidade de livros lidos, é preciso selecionar bem o conteúdo do material a ser estudado.

E aqui está o problema: enquanto o Barna Group comemorou esses tímidos números, eu tentei desvendar que materiais cristãos estavam sendo lidos. Cheguei a uma pesquisa do mesmo grupo, realizada dois anos depois - em 2005. Ali está uma lista dos top 7: os livros cristãos mais populares nos Estados Unidos. Eis o ranking (alguns títulos são tradução livre, já que não conheço em português):

1 O código Da Vinci (Dan Brown)
2 Uma vida com propósitos (Rick Warren)
3 As cinco pessoas que você encontra no céu (Mitch Albom)
4 Deixados para trás (Tim Lahaye)
5 A oração de Jabez (Bruce Wilkinson)
6 Terças com Morrie (Mitch Albom)
7 Sua melhor vida agora (Joel Osteen)

O que esta lista fala sobre a qualidade da leitura popular? Não que nada possa ser aproveitado daí, mas qualificar O Código Da Vinci como literatura cristã já revela o início do problema, considerando o fato de que o autor desta obra tenta colocar em cheque o ensino bíblico sobre Jesus. "Literatura anticristã" seria mais apropriado. Dos demais, uma mistura de judaísmo, com teologia da prosperidade, auto-ajuda e ficção dispensacionalista, indicam que, se os três livros que os adolescentes leram, e os cinco dos adultos, forem dessa lista, o problema com a mente cristã é ainda maior.

Embora as pesquisas tenham sido realizadas nos Estados Unidos, creio não haver muita diferença em relação ao Brasil. Talvez ainda haja mais leitura por lá do que por aqui. O desafio que temos hoje, para resgatarmos a mente cristã, é de incentivarmos e promovermos a leitura, investirmos na produção e aquisição de bons livros, e trabalharmos pesado para que, pelo ensino bíblico, a cosmovisão cristã seja uma realidade entre nós.

Deus nos ajude.

2 comentários:

Anônimo disse...

Opinião prazeroza neste local, assuntos deste modo dignificam ao indivíduo que observar neste blogue !!!
Escreve mais deste espaço, a todos os teus visitantes.

Cesar M. R. disse...

é... e, ao mesmo tempo, precisamos desenvolver métodos educativos que ensinem sobre Cristo de forma clara para os semi-analfabetos e analfabetos funcionais, pois não vamos conseguir (nem temos tempo para) desenvolver a cultura do país antes de anunciar o Evangelho. Lembro de Orígenes, que dizia que o Cristianismo, diferente da Filosofia, era acessível a todos. Que todos recebam a pura Palavra! Se os cristãos que zelam pelo Evangelho verdadeiro deixarem de falar aos "tapados", os aproveitadores da fé o farão, os arrebanharão, explorarão e, depois, deixarão um rastro de ateísmo e desilusão.
Que o bom Deus nos ajude.
Um abraço,
Cesar
www.saborososaber.blogspot.com