Quando eu era criança, havia uma técnica para pregar peças nos amigos de escola. A coisa caminhava mais ou menos assim:
A (apontando): O que é aquilo lá em cima?
B (procurando curiosamente): O quê?
A (rapidamente): Isso aqui! (dá-lhe um tapa na orelha).
A abordagem tem variações. Havia quem fizesse o truque para fugir. Logo que o interlocutor ficasse distraído, voava como o Lula fugindo da gramática.
Havia quem desejava tomar algo do desatento. Novamente, usava a tática, e enquanto o amigo viajava na busca do elemento inexistente, o espertalhão "tascava" a mão no pacote de salgadinhos, como um Palocci à procura de consultorias rentáveis.
E eis que hoje eu me vejo como o garoto desatento, sendo zombado pela malícia estratégica. Eu e a sociedade como um todo.
Enquanto todos discutiam sobre que novela exibiria o beijo gay na televisão brasileira - procurando um objeto imaginário e não identificado claramente - vem o Jornal Nacional e, no meio de uma "singela matéria", lança o beijo em suas duas versões (feminina e masculina).
Então a coisa fica assim: você não sabe mais se está sendo informado, ou apenas enrolado. Ao assistir jornal, você pode simplesmente estar levando um tapa na orelha.
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E qual o problema de um beijo gay na televisão brasileira? - alguém perguntará. O simples fato de haver discussão sobre quem terá tal ousadia, com acompanhamento da sociedade, indica que a coisa não é tão simples assim.
Mais do que isso: quem faz a pergunta acima ou está mal intencionado, ou perdeu completamente o ponto. Não se trata de um beijo, mas do projeto por trás dele. O caminho para agendar a sociedade para a "causa gay" é tornar a sua prática tão midiática quanto possível, para que passe da estranheza à banalização, e da normalidade ao elogio.
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