sexta-feira, 13 de agosto de 2010

As conversões não-salvíficas

O que faz alguém mudar de atitude ou crença em relação a determinado assunto? Alguém diria ser a percepção de um ponto positivo ou a compreensão do ponto-de-vista do outro. Creio que há algo mais. As “conversões” - como chamo aqui todas as mudanças de opinião e atitude sobre uma questão – envolvem elementos mais profundos, que vão além do aspecto lógico da realidade, e alcançam os pressupostos e as relações entre o assunto específico e outras questões periféricas.

Sinto que o parágrafo acima ficou confuso. Vou tentar explicar melhor: Thomas Khun desenvolveu uma perspectiva da “estrutura das revoluções científicas”, na qual cada mudança de paradigma por parte da ciência (o que ele chamou de revolução, e eu estou chamando de conversões) ocorre dentro de uma cadeia de relações que tem origem nos pressupostos dos cientistas. Primeiramente, para ele, não existe “ciência neutra”. Os cientistas estão carregados de pressupostos, que determinam os assuntos pesquisados, as abordagens utilizadas, os objetos, etc., etc. São tantos elementos escolhidos do início ao fim de uma pesquisa, que apenas as pressuposições se encarregam de guiar o cientista na condução do estudo – quer ele esteja consciente delas, quer não.

Quando surgem novas perguntas sobre o assunto, que não podem ser tocadas ou explicadas a partir do paradigma (das pressuposições) adotadas até então pelo cientista, a sua estrutura começa a ruir. Ele precisa definir o que fazer para lidar com a questão não resolvida. É aí que o paradigma anterior precisa ser completamente abandonado, para a adoção de outro que consiga lidar com as questões anteriores, e as novas – uma verdadeira revolução no sistema.

É assim que as conversões caminham. Alguém que crê no livre arbítrio humano e na autoridade da Escritura, entra em crise ao ver, no livro de Jonas, o exercício da soberania Divina sobre a vontade humana. Quais as opções? Falsear o sistema, criando estratégias de explicação do assunto que tendem a ocultar a questão, e não revelá-la, ou abandonar esse sistema de crenças (o arminianismo), em prol de outro mais abrangente e capaz de lidar com tais questões.

Por isso, uma boa estratégia para os que buscam conversões entre os seus ouvintes e discípulos, é fazer perguntas nos reconhecidos pontos fracos do sistema de pensamento do ouvinte, a fim de mostrar as debilidades daquela cosmovisão ou daqueles pressupostos, enquanto se demonstra a eficácia de um sistema de pensamento melhor.

Mais interessante ainda do que produzir conversões nos outros, é considerar as pessoais: Levantar perguntas sobre as questões internas do sistema, ler e ouvir críticos a fim de lidar com os pontos de uma perspectiva até então nem imaginada, e, finalmente, fortalecer as convicções, ou reconhecer a fraqueza do modo de pensar, e abandoná-lo por um mais consistente.

Este não é um exercício fácil e indolor. A nossa tendência a ser menos rigorosos conosco atrapalha consideravelmente o nosso crescimento. Por vezes fugiremos do confronto. Em outros momentos esconderemos as fraquezas do nosso sistema. Haverá dias nos quais sofreremos calados pelo orgulho ferido de perguntas não respondidas, ou por ouvirmos críticas verdadeiras sobre nossos pensamentos. Mas o dia libertador em que nos desprenderemos das amarras da vaidade e caminharemos rumo às conversões que nos permitem uma forma de pensar mais consistente pode estar próximo.


Notas:
1. Eu sentei aqui pra escrever sobre outra coisa e saiu isso.
2. O sentido de conversões aqui não tem nada em comum com o sentido bíblico e popular de conversão como etapa na salvação. 'Conversões' aqui está mais ligado ao processo de transformação de posturas e pensamentos.
3. Não explorei o aspecto não-lógico da mudança de convicções. Ele está relacionado aos vínculos de afetividade com o meio pelo qual se recebe a perspectiva oposta, ou concorrente. Talvez eu desenvolva isso em algum post depois.

2 comentários:

Nilson Junior disse...

Olá!
Interessante o que escreveu. Continue desenvolvendo esse tema. Também tenho pensado sobre o papel dos pressupostos em nossas conclusões.
Comprei o livro do Herman Dooyweerd "No crepúsculo do pensamento" que parece ser muito interessante (não terminei de lê-lo). Já ouvi falar muito de Thomas Kuhn, li alguma coisa a respeito, mas nunca li uma obra dele. Você sabe quais livros dele sairam no Brasil? Qual você indicaria para começar?
Obrigado! Um abraço!

Vicente Natividade disse...

Parabéns pelo trabalho no blog. Já estou seguindo.

Aproveito para lhe convidar a conhecer o meu blog, e se desejar segui-lo, será uma honra.

Seus comentários também serão muito bem-vindos.

www.adonainews.com.br

Vicente Natividade