Em sua cobertura, o UOL lançou enquete relacionada ao PLC 122/06. A pergunta vai assim:
O que você acha da criminalização da homofobia?
E as opções são:
• Sou a favor, afinal, ninguém tem direito de discriminar o outro pela orientação sexual
• Sou contra, pois fere a liberdade de pensamento
• Estou em dúvida ou não sei
Existe uma agenda sendo cumprida |
A maldição entre os liberais clássicos está no fato de que tendem a pensar abstratamente, esquecendo-se das condições históricas que determinam a aplicabilidade de seus princípios. Um exemplo: os liberais tendem a ser favoráreis à liberação das drogas - afinal de contas, o Estado não deve intervir na vida dos indivíduos. Pois bem, o pensamento é bonito. Mas na realidade concreta do Brasil, como nos mostra o professor Olavo de Carvalho, liberar as drogas é entregar o controle do Brasil a quem já domina o mercado - os narcoguerrilheiros das FARC, por exemplo. Assim, seria uma tragédia estratégica liberar as drogas em nome do "Estado mínimo", para promover um crescimento ainda maior do socialismo real e das forças que desejam implantá-lo violentamente.
Outra tragédia se deu ainda essa semana com o STF. Pensando apenas abstratamente, os doutos ministros se esqueceram de avaliar a manifestação concreta do que estavam tratando ao pensar sobre a "marcha da maconha". Resultado: permitiram as passeatas em favor da liberação da droga. A distinção abstrata entre liberdade de expressão e apologia do crime é dissolvida nos casos concretos das marchas, que partem do pressuposto de que a maconha é boa e deveria ser usada por quem deseja - isso em si já é uma apologia do crime.
Descrita a tragédia do pensamento brasileiro nesses itens, há a enquete do UOL. Precisamos fazer várias críticas abstratas ao que ali está disposto, mas concretamente, precisamos votar na opção "sou contra", para demarcar uma posição pública que rejeita a agenda dos ativistas homossexuais. Então, peço novamente, vá lá e vote.
Já votou? Então prossigamos:
A enquete do UOL é uma grande pegadinha, que tenta passar sutilmente alguns pressupostos "por baixo dos panos". Mesmo quem vota na segunda opção - a que recomendei - pode ser enganado pelos termos da discussão.
Que termos são problemáticos ali?
Primeiramente existe a pressuposição de uma "homofobia" existente. Já critiquei e passarei a minha vida criticando este termo, carregado de ideologia e sem aptidão para descrever a realidade. Em vários sentidos o termo é impreciso, a começar pela etimologia (não se trata de fobia ou medo de iguais). Mais do que isso, admitir a expressão "homofobia" é receber toda a carga ideológica que vem no pacote. É aderir subliminarmente à agenda e às definições dos ativistas LGBTT. É considerar a sua descrição da realidade como verdadeira, e tentar refutá-la na base deles.
Discordo absolutamente da descrição proposta pelos ativistas homossexuais. A sua apologética gira em torno dos dados oferecidos pelo grupo gay da Bahia, que contabilizou algo em torno de 250 mortes de homossexuais em 2010. Número grande? Se observarmos o contexto geral, não.
1 Comparado com os 50.000 homicídios realizados no Brasil, é impossível falar dos homossexuais como um grupo perseguido. Se a categoria for essa, os heterossexuais são muito mais perseguidos, pois o número de suas mortes é incomparavelmente maior.
2 O número é jogado indiscriminadamente. Deve-se retirar desse número os homossexuais que mataram outros homossexuais (seriam homossexuais homofóbicos?), e os homicídios que foram realizados em razão de outros fatores que não do homossexualismo (roubo, balas perdidas, acidentes, etc.).
Pensando assim, percebemos que o termo "homofobia" vem carregado de uma interpretação falseada da realidade. Não nego que exista preconceito e maus tratos a homossexuais, e como cristão, rejeito e considero pecaminosa qualquer conduta que não considere a imagem e semelhança de Deus no homem, bem como o seu valor intrínseco daí decorrente. Mas do respeito bíblico pelo ser humano a compartilhar a visão proposta pelos ativistas gays existe uma grande distância. Rejeito, portanto, o termo mais básico da enquete do UOL.
Após isso, a primeira resposta vem cheia de pressupostos invasivos, que pretendem ser empurrados goela abaixo do leitor. As categorias utilizadas ali são "direitos", "discriminação", e "orientação sexual".
A mordaça intelectual vem antes |
A expressão "orientação sexual" também empurra falsos pressupostos sobre nós. O Pr. Albert Mohler já denunciou a estratégia, e Lívia Pinheiro confessa no site oficial do PLC 122: "Falamos de orientação, e não de opção, porque não é algo que possamos mudar de acordo com nosso desejo". Eis que aparece a armadilha: ao aceitar o termo "orientação sexual", você passa a pensar o homossexualismo como os ativistas o apresentam - algo que não pode ser mudado pelo homem.
Por um lado, nenhum pecado pode ser abandonado exclusivamente com base no esforço humano. É a graça de Deus que transforma o pecador. Mas isso não significa que o homem não se dedique e discipline ao abandono do erro.
"Orientação sexual" é um engodo, uma estratégia para que, quanto mais pensarmos o homossexualismo em termos de uma condição irreversível, mais nos acomodemos com a sua realidade e concedamos espaço para que tal prática não seja apenas reconhecida, mas finalmente exaltada.
Se você é cristão, parte de seu papel na sociedade é denunciar os pecados, apresentar Jesus e o evangelho, e reivindicar que os pecadores creiam em Cristo e abandonem os seus erros. Por isso, é fundamental que a categoria "orientação sexual" seja expurgada do nosso linguajar e da nossa forma de pensar. Falamos, de fato, em opção, em comportamento, em escolha - ato da vontade pecaminosa do homem. É na brecha da "orientação sexual" que se tenta (e tentará ainda mais) empurrar algum tipo de determinação biológica para a conduta homossexual. A Bíblia apresenta tal prática como pecado e ato da vontade humana, portanto a trataremos desta maneira. Rejeito mais este termo da enquete do UOL.
Na resposta seguinte - a que eu recomendei acima - a questão central não passa nem perto de ser mencionada. O apelo exclusivo ali está para a "liberdade de pensamento", o que pode ser interessante em alguma medida (por isso pedi que votassem nela, já que é a única opção contra o PLC 122), mas perde força por apelar para a autonomia humana. Explico:
O fundamento de nossa rejeição ao PLC 122/06, em última análise, não é o direito à liberdade de expressão ou pensamento. Este direito é importante, certamente, mas há algo mais básico na equação. Não reivindicamos apenas a liberdade para pensar e manifestar a nossa opinião, mas reivindicamos o senhorio de Jesus sobre todas as esferas da vida, determinando inclusive a nossa conduta, pensamento, e fala.
O resultado final desta agenda será proibir o anúncio das verdades bíblicas |
Eu espero estar sendo claro aqui: obedecer a Deus e falar aquilo que Ele ordena é uma causa muito maior e mais importante do que ter a liberdade de expressão, porque esta última afeta apenas a mim, enquanto a primeira está relacionada ao Senhor de toda a Terra. Desta forma, mesmo na resposta negativa, eu rejeito os termos da enquete do UOL, por ser incompleta, e não trabalhar com o fundamento mais importante da minha inconformidade com o PLC 122.
Quanto à última resposta - "estou em dúvida ou não sei" -, bom... não tenho nada a rejeitar. =)
O meu ponto é: mesmo nas enquetes "ingênuas" que buscam averiguar a postura do brasileiro diante destas questões, existem pressupostos sendo empurrados sobre o povo, que pouco a pouco transformarão a mentalidade comum até chegar ao nível de acomodação, e valorização do homossexualismo.
Não sou "homofóbico", "direitos" e "discriminação" não estão na jogada, não se trata de "orientação sexual" e não defendo apenas minha "liberdade de pensamento". Eu rejeito os termos dessa discussão.
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Atualizado, após ser informado que a ordem das opções varia de acordo com o número de votos. Obrigado, Maya Felix!
6 comentários:
Oi Allen!
Parabéns pela postagem. Gostei muito da forma como você interagiu com o texto (da enquete). Lembrou-me bastante a abordagem que o Vincent Cheung ensina no seu livro 'Apologética na Conversação'. Já leu?
Me tornei seu seguidor!
Graça e paz,
Leandro Teixeira.
Atenção, não é a "opção número 2", porque a opção que trm mais votos aparece em primeiro lugar. Acabei de votar, e a resposta "não" à "criminalização da homofobia" estava ganhando, com 53%, e aparecendo como "opção número 1".
Obrigado, Leandro,
Li este material do Cheung, mas eu pego beem mais leve que ele =)
Abraço
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Obrigado, Maya, já atualizei o post.
Abraço
Allen,
Excelente meu caro. Deus te abençoe e continue concedendo essa perspicácia.
Amém, Rev. Milton!
Obrigado. Abraço
Olá Allen.
Seu blog está no meu "favoritos" ha algum tempo.
Suas postagens são muito pertinentes.
Essa é uma delas.
Não apenas pertinentes, mas ricas de conteudo biblico genuinamente abordado, além de uma excelente cosmovisão cristã.
Não faço demagogia.
Os elogios são para a Glória de Deus e vc tb busca isso.
Além de tudo somos "quase" companheiros de obra. Estou licenciado e aguardo minha ordenação ao ministério no Presbiterio Leste Vale do Aço em Ipatinga, Minas Gerais.
Um forte abraço e q Deus continue lhe abençoando muito.
Marcelo.
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